quinta-feira, 29 de março de 2007

Está quase

O OT vai levar a palco a sua primeira produção teatral, que consiste numa encenação do texto “Primeiro Amor” de Samuel Beckett”, um monólogo sobre as deambulações de um homem num retalho da sua vida que inicia com as recordações dos dias passados no cemitério onde está enterrado o seu pai, percorre jardins, vacarias e a casa do amor.


Autor e Texto

Samuel Beckett nasceu a 13 de Abril de 1906, em Foxrock, um subúrbio de Dublin. Oriundo de uma família protestante abastada, estudou na Portora Royal School antes de ingressar no Trinity College da sua terra-natal. A relação conflituosa que sempre manteve com a mãe levou-o a mudar-se para Paris. Uma vez instalado na capital francesa, passou a frequentar a pequena comunidade literária de expressão britânica que se reunia na famosa livraria Shakespeare and Company de Sylvia Beach, onde conheceu James Joyce. Em 1930 Beckett estreou-se como poeta, ao publicar Whoroscope, um monólogo dramático de uma meditação sobre os mistérios de Deus, da vida e da morte. Em 1931 reuniu uma colectânea de ensaios com o título Proust . De regresso a Dublin, licenciou-se pelo Trinity College em Estudos Franceses e Italianos e, no ano de 1927, começou a trabalhar como professor em Belfast. Em 1932, a morte do pai trouxe-lhe uma herança que lhe permitiu abandonar a carreira académica para se dedicar somente à escrita. Julgando Londres um meio mais propício a oportunidades, mudou-se para esta cidade em 1933. No ano seguinte, publica o seu primeiro romance, More Pricks Than Kicks (1934). Com o deflagrar da Segunda Guerra Mundial, Samuel Beckett partiu definitivamente para França. Juntou-se às fileiras da resistência anti-nazi mas era procurado pelos Nacional-Socialistas e por isso foi obrigado a fugir para o Sul do país, escondendo-se no Roussillon durante dois anos. Por esta altura, Beckett começou uma relação com Suzanne Deschevaux-Dumesnil e partilhou com ela o resto dos seus dias. Alguns estudiosos do dramaturgo apontam Suzanne como a grande responsável pela divulgação da obra de Beckett. Com o final da guerra, Beckett esteve ao serviço da Cruz Vermelha em Paris. Passou a escrever em francês, publicando uma trilogia narrativa composta por Molloy (1951), Malone Meurt (1951) e L'Innommable (1953), e as suas peças de teatro mais famosas, En Attendant Godot (1952), Fin De Partie (1957) e Oh Les Beaux Jours (1961). Em 1959 o autor regressa à língua materna, publicando Krapp's Last Tape , peça de teatro em que um velho se senta só num quarto a ouvir gravações do seu passado. Em 1961, Beckett ganha o Prémio Formentor, ex-aequo com Jorge Luís Borges. Em 1969, foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, mas não esteve presente na Academia Sueca para receber o prémio, tendo-se refugiado num hotel em Cascais. Depois do Nobel escreveu as suas peças mais minimalistas: Não Eu, Aquela Vez e Embalada. Nos anos 80 escreveu Company, III Seen III Said e Worstward Ho. Os seus últimos textos foram Que palavra será e Sobressaltos, em 1988. Com 83 anos, a 22 de Dezembro de 1989, seis meses depois da morte da mulher, Beckett faleceu após ter sido hospitalizado por problemas respiratórios. Conhecido pelo seu minimalismo e pela forma como abordava o absurdo da condição humana, Beckett disse, em Duthuit Dialogues, que "ser um artista é falhar como mais ninguém se atreve a falhar”. “Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor.”, lê-se em Worstward Ho. E o que é certo é que muitos consideram que o dramaturgo irlandês revolucionou o teatro do século XX e, até hoje, ninguém mais conseguiu fazê-lo.

Primeiro Amor faz parte de um conjunto de quatro novelas (“O Calmante”, “O Expulso” e “O Fim”) escritas em 1946, altura em que Samuel Beckett começou a escrever em francês. No entanto a sua publicação em francês ocorreu durante o ano de 1970, na altura em que a obra de Samuel Beckett era consagrada por obras como “Á Espera de Godot”, “Fim de Partida” e “Os Dias Felizes” (todas já traduzidas e publicas em português).
O texto contado na primeira pessoa, retrato um retalho da vida de um homem que vive numa existência aparte da sociedade, e cujo a sua filosofia de vida está sempre presente, ou não?!, nas atitudes que toma. A sua deambulações pela mundo arrastam-no entre o cemitério de seu pai, e um banco de jardim, do qual teve que se “ausentar por uns tempos” devido a um caso amoroso, ou não?!, que sem sombra de dúvidas fugia, a sua forma de estar e viver, ou não?!. Poderá Um homem manter as suas convicções o seu mundo ou estará dependente do corpo que arrasta, ou não?! Voltar ao banco para não mais ser incomodado, ou não?! Retomar a sua existência, ou não?! Recomeçar, ou não?! Ser impedido por factos estranhos cuja a probabilidade de ocorrência é insignificante, ou não?! Disto tenho a certeza... ou não? Já não me lembro...